quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
As Energias, Minas, São Paulo...
Às vezes o sotaque marqueteiro do presidente Lula, comum ao PT, é de destruir a paciência. Na segunda-feira, ele disse: “A questão energética vive de boatos. Todo dia tem boato de que vai acontecer isso, vai acontecer aquilo. O dado concreto é que o Brasil está seguro de que não haverá apagão e de que não faltará energia para dar sustentabilidade ao crescimento que nós queremos ter no Brasil”.
Ontem, o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Luiz Menel, desmentiu o presidente. Para ele, na prática já estamos operando em ritmo de apagão, pois no mercado spot (ao qual se recorre na hora do aperto) o megawatt-hora está custando R$ 569,59, mais de cinco vezes o valor de três meses atrás.
A esse preço, daqui a pouco será proibitivo fabricar um produto que utilize muita energia, como o alumínio, por exemplo. Quer dizer: falta o apagão chegar no consumidor final, coisa que já está prometida no anúncio de aumento da tarifa. Então, como é que Lula, que nada entende do assunto (de qual entenderá?), xinga os técnicos da área dizendo que ela vive de boato. Ele é que é desinformado. Numa hora dessas, ele deveria perceber que é obviamente o pior momento para se trocar o ministro. O novo levará no mínimo um mês para fazer um diagnóstico e não há tempo para isso.
E pior que isso é o nome cogitado, o do senador Edson Lobão (PMDB-MA). Ele nada entende de energia. Claro que ministro é um cargo político. General também, mas aprender a atirar depois de começada a guerra é um pouco demais.
Escolhido, a tendência de Lobão será trocar o secretário executivo, Nelson Hubner (ministro interino há oito meses). Se fizer isso, será um desastre, pois esse, sim, é um dos poucos que sobraram que entendem do assunto; se não fizer, corre o risco de jamais tomar posse de fato, pois comerá sempre na mão de Hubner.
Num ano eleitoral, para quê o PMDB quer um ministério-mico às vésperas do racionamento explodir no colo de Lula, salvo uma tormenta daquelas no resto do trimestre? Tá legal que eles já puseram a culpa na Dilma, mas é a cara de Lobão que vai sair na foto.
Para quê pôr um ministro com vida pessoal embrulhada no lugar de outro, de vida pessoal também embrulhada, que justamente por isso foi afastado do cargo há quase um ano?
Isso, para mim, está mais parecendo uma negociação para a próxima eleição municipal na Capital de São Paulo, a fim de favorecer o apoio do PMDB à candidatura da ex-prefeita Marta Suplicy. É que, além do próprio ministro, o próximo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia provavelmente será Miguel Colassuono, que foi Prefeito de São Paulo de 1973 a 1975. Ele vem apoiado pelo Deputado Michel Temmer e por Orestes Quércia (Presidente do PMDB/SP).
É encrenca em excesso até para um governo que vive envolvido em acusações de corrupção. Mas se Lula só sabe trabalhar assim, paciência.
Adaptação do Texto de José Negreiros, Jornalista.
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