sábado, 19 de janeiro de 2008

Para Refletir: Maiakovski, Brecht e Niemöller. Três textos sobre nossa atual ACOMODAÇÃO POLÍTICA

"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.
"

Vladimir Vladimirovich Maiakovski (1893/1930). Poeta Russo. Ingressou aos 15 anos na facção bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo. Foi preso e apoiou a Revolução de Outubro (Bolchevique ou Vermelha), que, liderada por Lenin, se tornou a primeira revolução comunista marxista do Século XX. Influenciou profundamente o futuro da poesia em seu país e no mundo. Suicidou-se com um tiro em 1930.
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"Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei.

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo."

Eugen Berthold Friedrich Brecht (Bertolt Brecht era um nome artístico) (1898/1956). Médico, dramaturgo e poeta alemão. Revolucionou o teatro com peças que visavam estimular o senso crítico e a consciência política do espectador. A crítica social e política contida em suas obras, sua ironia e seu humor cínico causaram escândalo na República de Weimar alemã. Com a ascensão ao poder dos nazistas, iniciou-se uma longa odisséia para Brecht, que, no final, o conduziu à Califórnia, onde permaneceu até o final da guerra. Autor de várias obras, foi uma das principais vozes que se ergueram contra o nazismo. Morreu em decorrência de um infarto.
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"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.

Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram;

já não havia mais ninguém para reclamar..."

Martin Niemöller (1892/1984). Teólogo e Pastor Alemão. Foi um dos símbolos maiores da resistência ao regime nazista. Em movimentos iniciados na igreja, foi acusado de "abusar do púlpito" e de fazer "declarações contra o Estado". Em razão disso foi perseguido, processado e preso, tendo sido enviado por Hitler para vários campos de concentração como seu "prisioneiro pessoal".

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

As Energias, Minas, São Paulo...

Às vezes o sotaque marqueteiro do presidente Lula, comum ao PT, é de destruir a paciência. Na segunda-feira, ele disse: “A questão energética vive de boatos. Todo dia tem boato de que vai acontecer isso, vai acontecer aquilo. O dado concreto é que o Brasil está seguro de que não haverá apagão e de que não faltará energia para dar sustentabilidade ao crescimento que nós queremos ter no Brasil”.

Ontem, o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Luiz Menel, desmentiu o presidente. Para ele, na prática já estamos operando em ritmo de apagão, pois no mercado spot (ao qual se recorre na hora do aperto) o megawatt-hora está custando R$ 569,59, mais de cinco vezes o valor de três meses atrás.

A esse preço, daqui a pouco será proibitivo fabricar um produto que utilize muita energia, como o alumínio, por exemplo. Quer dizer: falta o apagão chegar no consumidor final, coisa que já está prometida no anúncio de aumento da tarifa. Então, como é que Lula, que nada entende do assunto (de qual entenderá?), xinga os técnicos da área dizendo que ela vive de boato. Ele é que é desinformado. Numa hora dessas, ele deveria perceber que é obviamente o pior momento para se trocar o ministro. O novo levará no mínimo um mês para fazer um diagnóstico e não há tempo para isso.

E pior que isso é o nome cogitado, o do senador Edson Lobão (PMDB-MA). Ele nada entende de energia. Claro que ministro é um cargo político. General também, mas aprender a atirar depois de começada a guerra é um pouco demais.

Escolhido, a tendência de Lobão será trocar o secretário executivo, Nelson Hubner (ministro interino há oito meses). Se fizer isso, será um desastre, pois esse, sim, é um dos poucos que sobraram que entendem do assunto; se não fizer, corre o risco de jamais tomar posse de fato, pois comerá sempre na mão de Hubner.

Num ano eleitoral, para quê o PMDB quer um ministério-mico às vésperas do racionamento explodir no colo de Lula, salvo uma tormenta daquelas no resto do trimestre? Tá legal que eles já puseram a culpa na Dilma, mas é a cara de Lobão que vai sair na foto.

Para quê pôr um ministro com vida pessoal embrulhada no lugar de outro, de vida pessoal também embrulhada, que justamente por isso foi afastado do cargo há quase um ano?

Isso, para mim, está mais parecendo uma negociação para a próxima eleição municipal na Capital de São Paulo, a fim de favorecer o apoio do PMDB à candidatura da ex-prefeita Marta Suplicy. É que, além do próprio ministro, o próximo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia provavelmente será Miguel Colassuono, que foi Prefeito de São Paulo de 1973 a 1975. Ele vem apoiado pelo Deputado Michel Temmer e por Orestes Quércia (Presidente do PMDB/SP).

É encrenca em excesso até para um governo que vive envolvido em acusações de corrupção. Mas se Lula só sabe trabalhar assim, paciência.

Adaptação do Texto de José Negreiros, Jornalista.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Palavras, palavras, palavras...

Como tudo nessa vida tem um ônus e um bônus, ao menos a medida anunciada pelo Governo, a respeito do aumento da carga tributária, nos faz lembrar daquela bela canção "Palavras ao Vento", da breve, porém intensa, Cássia Eller.

Mas, além desta agradável lembrança, nada mais há de positivo para se tirar de mais esta verdadeira traição. Como já declarou o Deputado Onyx Lorenzoni (PSDB-RS), "mais uma vez o presidente Lula mentiu. Ele não preza pela própria palavra".

E nós, pobres administrados, os verdadeiros membros do povão, nada podemos fazer.

Aliás, se fazer algo já é difícil, que diriam então os que tentam entender a lógica deste Governo? A propósito disso, pensei aqui num pequeno resumo dessa história toda:

1) O Governo quer aprovar continuação da cobrança da CPMF;

2) Para isso, argumenta que a verba é necessária para os projetos sociais;

3) Depois, mudando de discurso quando faltavam 15 minutos para se iniciar a votação, diz que os projetos sociais têm verba garantida;

4) Com isso, diz que a arrecadação da CPMF vai para a saúde;

5) Ninguém entende a mudança tão brusca que, ao final, além de denotar extrema falta de planejamento, enterra de vez qualquer chance de se crer na palavra do Presidente;

6) E a CPMF cai;

7) No pronunciamento de final de ano, em rede nacional, o Governo coloca a culpa pelo não avanço da saúde na oposição, por não terem aprovado a CPMF;

8) O povo fica sem entender quais "avanços" seriam estes, já que nenhum novo projeto foi implementado nessa área até 2007;

9) Mesmo assim alguns poucos ainda acreditam que, muito embora sem nada ter sido feito de substancial na saúde em 5 anos, em 2008 haveria avanços;

10) O governo e diz que haverá aumento de impostos para "repor" a "perda" da CPMF;

11) Então, se a CPMF era para a saúde, o dinheiro todo arrecadado com esse aumento de impostos vai para a saúde, correto?

12) ERRADO!!! Segundo o governo, não haverá novos investimentos na saúde!!!

É, de fato, triste.

Uma coisa é apostar na "curta memória política" do brasileiro. Outra coisa é achar que em menos de um mês todos se esqueceriam de tudo o que se passou e que foi dito, pelo próprio Presidente, inclusive em rede nacional de rádio e TV!!!

O que temos a fazer, então, é apenas não mais nos importarmos com isso. Quando virmos nosso Ilustre Presidente falando na TV, basta abaixarmos o volume que o resultado será o mesmo.

Ele é carismático; Ótimo. Então só o admiremos fisicamente, enquanto ele lê seus pronunciamentos. Afinal, o que ele fala, escreve, promete, etc., etc., não vale nada, absolutamente NADA!

O pior de tudo, caros leitores, é que nosso Presidente não se cansa de nos provar isto. Então, para o nosso próprio bem, não mais o escutemos. Assim, nada terá sido a nós prometido, de maneira que nada haverá para ser traído.

Para terminar, apenas uma lembrança que agora me ocorre: Não sou religioso como nosso Presidente diz ser. Mas há no mercado um livrinho bobo, quase desconhecido, que busquei ler para dele extrair algo de bom: A Bíblia.

E nele há, em Eclesiastes, passagem que alguns aprendem na igreja, outros na vida: "O homem é dono da palavra guardada e escravo da anunciada".

Talvez Lula não tenha vivido o suficiente para aprender esta lição. Ou, então, talvez tenha mentido mais uma vez quando disse que ia à igreja.

Nota do Senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) sobre o aumento da carga tributária

"O "pacote" anunciado pelo governo Lula fere frontalmente o acordo que havia sido formulado com as oposições no Senado, para, entre outras coisas, aprovar a DRU. A hora é de corte de gastos e o governo prefere o confronto. Teria o nosso respeito, na primeira hipótese. Terá nossa luta, na opção que fez.

O compromisso que havia sido firmado conosco garantia que não seria editado nenhum pacote tributário e nem haveria substituição da CPMF por algo que mexesse apenas no nome desse tributo. Também foi prometido aguardar até fevereiro para discutir a intensidade e qualidade dos cortes orçamentários, uma vez que nossa determinação é de salvaguardar os investimentos infra-estruturantes e sociais.

A decisão de descumprir o acordo feito conosco não surpreende e nem decepciona. Infelizmente, o PSDB já sabia que ia ser assim. O governo desmoralizou o ministro José Múcio, desgastou as lideranças no Senado, terá sérios percalços na discussão da peça orçamentária deste ano e agiu no melhor estilo populista latino-americano.

O PSDB não negociará mais com esse governo. Vamos nos confrontar nos episódios dos três anos seguintes e duas coisas precisam ser registradas:

1)O governo é perdulário e não quer discutir redução de gastos, optando pela saída fácil do aumento de impostos, desnecessário na bonança que estamos vivendo;

2)Se o problema é a saúde, por que o governo não destina os recursos do aumento de recursos para a saúde? Alcança-se o mentiroso mais facilmente que o coxo;

Alguns cálculos simples:

Os R$ 42 bilhões "perdidos", da arrecadação presumível da CPMF, vezes 35% de carga tributária é igual a R$ 14,7 bilhões, o que corresponde ao que o dinheiro na mão dos particulares endossará, sob a forma de outros impostos, os cofres públicos;

Deixando de pagar os cheques de rolagem da dívida de CPMF, o governo se beneficiará de outros R$ 10 bilhões;

Um crescimento modesto de 4%, em 2008, repõe outros R$ 12 bilhões;

O total é de R$ 37 bilhões. Os R$ 5 bilhões restantes são muito facilmente remanejáveis, extinguindo alguns dos ministérios da máquina inchada, não contratando 60 mil cabos eleitorais, como prevê o orçamento do ano que vem, demitindo parte dos "companheiros" nomeados para cargos comissionados. Nossa premissa sempre foi salvaguardar infra-estrutura e programas sociais. O dinheiro resultante do aumento da carga tributária anunciada hoje (02/01/) não vai para a saúde - e o problema da saúde, como tem sido dito com todas as letras pelo PSDB, é desvio de recursos somado ao desperdício.

Ou o governo não está preocupado com a saúde ou mente, desde o começo."