
A sessão do dia 12/12/07 (que só terminou no dia seguinte, 13/12)
foi mais uma daquelas que entraram para a história.
Com argumentos diferentes, membros o bloco da oposição e da situação lançaram mão dos mais inflamados discursos. E, no fim do dia (ou melhor, no começo do dia 13), restou rejeitada o PEC (Projeto de Emenda Constitucional) que prorrogava a CPMF.
Foi um trabalho digno de aplausos, especialmente do
PSDB e dos
DEMOCRATAS, que, com argumentos sérios e coerentes chegaram a convencer, inclusive, membros da oposição (que só não votaram contra o Governo pois no PT não há liberdade... Aliás, ao meu modesto ver, a
liberdade PeTista só pode ser exercida numa direção: A favor de Lula. Se, por outro lado, se quiser exercer a liberdade em seu desfavor, acaba-se como Heloísa Helena, Chico Alencar, Luciana Genro, etc, etc.:
Expulsos). Mas isso é outra história, que conto outro dia...
Pois bem: Que a CPMF não era mais necessária, isso era certo. Mas, dentre todos os argumentos, um dos mais sérios foi revelado por Tasso Jereissati (PSDB-CE). É que, em todo e qualquer relacionamento humano, a palavra vale muito. Isso vale para desde um namorico adolescente, indo até os
acordos políticos. E, em um acordo político-partidário, talvez a palavra valha mais ainda, dado que em política o fator
tradição também é muito forte, presente e respeitado.
E, como já era de se esperar, o
governo quebrou um acordo... E qual era esse acordo? Digo eu:
Em 2003 o governo enviou ao congresso nacional um projeto de
Reforma Tributária e também um de prorrogação da CPMF. O momento era de crise fiscal, em que não se apontava para solução de curto prazo. O crescimento do país e o crescimento externo eram medíocres e as perspectivas de se resolver a questão fiscal simplesmente não existiam...
Foi nessa esteira que o PSDB e o DEM (então PFL) fizeram com o governo um acordo com o governo e, com vistas ao bem do país e da população, sensíveis aos problemas que viriam à tona caso aquilo não fosse feito, aprovaram o aumento de carga tributária e também prorrogaram a CPMF. Aquilo, pelo menos para mim, foi, inclusive, uma lição à
oposição burra que sempre fez o PT (de negar apenas para contrariar). Eles, com aquele ato, demonstraram que a oposição devia ser dura, mas também racional; E que, se fosse necessário, deveriam que convergir.
Foi, então, exatamente neste momento que o governo, através de sua liderança no Senado (à época com Mercadante (PT-SP)) e do então ministro da fazenda, concordando que a CPMF era um imposto que fazia mal à economia brasileira, se comprometeu a, ao longo do tempo, reduzi-la gradualmente, à medida em que determinados parâmetros fossem alcançados (relação dívida/PIB positiva na evolução, por exemplo). E isso ocorreria até ser atingido o percentual de 0,08%, quando então seria a CPMF algo de função meramente fiscalizatória.
E, como disse antes, isso foi feito mediante um
acordo; E este era o acordo.
E o acordo não foi cumprido pelo governo Lula. Todos os parâmetros para que o gatilho de diminuição da CPMF fosse acionado ocorreram, mas o governo não moveu uma palha... Afinal, nessa época, o
bolsa-voto já comia solto...
Mas o acordo foi ignorado... Desrespeitou-se tudo! E, no último dia 12, queriam, sem mais nem menos, simplesmente empurrar novamente esse encargo pra cima da população...
E o governo não tinha do que reclamar: Foi ele quem, em 2003, montou o esquema; Foi ele quem realizou o planejamento... Para se ter uma idéia, a arrecadação da época, com CPMF, era proporcional à de hoje,
sem CPMF. E planejou com um simples motivo: o de dizer (ou melhor: de
mentir) que se aqueles parâmetros fossem alcançados, não precisaria da CPMF.
Hoje, como previsto, há reservas de superávit financeiro do governo na ordem de mais de R$ 200.000.000.000,00 (duzentos bilhões de reais). Aliás, através da LDO de 2008 o próprio governo previu que, com a liberação da DRU (que acabou sendo votada na mesma noite) R$ 36.000.000.000,00 (trinta e seis bilhões de reais) estariam disponíveis para serem aplicados nos projetos sociais.
Em resumo: Quando a CPMF era necessária, a oposição se uniu ao governo e fez um acordo. E hoje, quando não é mais preciso retirar mais esse dinheiro do bolso do povo, o governo simplesmente passa por cima de suas próprias palavras, dizendo que "os projetos sociais acabariam"...
E outras tantas coisas interessantes, curiosas e absurdas aconteceram nesta sessão: Mas a mais intrigante, aquela que carimbou com o selo da ignorância política o atual governo, aconteceu lá pelas 23h00 (sim, 11 da noite!)...
Depois de muita discussão; depois de o governo ignorar a bancada da oposição na câmara; depois de negar sentar-se para negociar condições mais benéficas para a população; depois de dizer que os projetos sociais acabariam sem a CPMF; depois de tentar comprar votos com cargos vagos... Eis que
aparece, nas mãos de Romero Jucá (PMDB), uma carta assinada pelo Presidente Lula, "
comprometendo-se a passar toda a arrecadação da CPMF diretamente para a saúde"...
Essa foi a gota d´água... Os pingos nos "is" da IgnorâncIa...
Daí perguntou-se:
O governo não tem planejamento?
Porque mandou só agora esta carta?
O que ela quer exatamente dizer?
Aliás, o dinheiro não era para os projetos sociais?
E agora vão para a saúde?
Mas então há dinheiro para os projetos sociais, conforme já adiantava Tasso?
E o pior: os termos da carta eram capciosos: nada estava claro... tudo escrito em termos que permitiam cinco ou seis interpretações diferentes...
E foi aí que o cenário definiu-se. Tentou o governo, ainda, usar o Senador Pedro Simon (PMDB-RS) para defender a tese de que "ainda era necessário conversar"... Essa intervenção deste ilustre e insubstituível senador rendeu, ainda,
uma boa briga entre ele e o Senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder da oposição. Ouviu-se elogios do calibre de "
político de calça-curta" para baixo...
No fim, o próprio Simon percebeu seu equívoco, inclusive advertido por Heráclito Fortes (DEM-PI)...
Mas já era tarde... A prorrogação da CPMF não foi aprovada e, de quebra,
o governo Lula teve de entender que a democracia séria demanda mais que churrascos aos finais de semana.
Mas, para mim, ainda ficou no ar uma coisa: O Presidente Lula, em rede nacional,
apelou para dizer que "
quem era contra a CPMF era a favor da sonegação e contra os pobres".
Então
quando o PT era contra a CPMF, o Lula era "a favor dos sonegadores e contra os pobres"? Essa também ficou sem resposta pra mim...
Talvez eu seja um ignorante face à lógica complexa do nosso ilustre Presidente Lula... E,
em determinados momentos, meus amigos, a ignorância é uma bênção...
Aliás, o Simplificando Política tem todo o áudio desta inesquecível sessão. A parte mais interessante (da fala do Senador Romero Jucá para frente) tem cerca de 60 Megabytes. Como é relativamente pesado, não carregamos no Blog. Mas basta pedir por e-mail que enviaremos com satisfação.